Quando perguntaram ao senhor K. que animal ele apreciava mais que todos, ele mencionou o elefante, e assim se justificou: O elefante une astúcia e força. Não a astúcia mesquinha que basta para evitar uma emboscada ou arranjar um alimento, passando-se despercebido, mas a astúcia que sabe utilizar a força para grandes empreendimentos. Por onde esse animal passa, deixa uma larga pista. No entanto ele é camarada, entende brincadeiras. É tão bom amigo quanto bom inimigo. Muito grande e pesado, ele é, no entanto, também muito rápido. Sua tromba conduz ao corpo enorme até os menores alimentos, amendoins inclusive. Suas orelhas são reguláveis: ele ouve apenas o que lhe interessa. Ele chega a ficar muito velho. Também é sociável, e não só com elefantes. Em toda parte é igualmente amado e temido. Uma certa comicidade torna possível que ele seja até venerado. Ele tem uma pele espessa, na qual se quebram as facas; mas sua índole é delicada. Ele é capaz de ficar triste. É capaz de se enraivecer. Ele gosta de dançar. Ele morre na selva. Ele ama as crianças e outros animais pequenos. Ele é cinza e chama a atenção com sua massa. Ele não é comível. Ele é bom trabalhador. Ele gosta de beber e fica alegre. Ele faz algo pela arte: fornece marfim.
do livro Histórias do Sr. Keuner, de Bertolt Brecht (tradução de Paulo César de Souza; Editora 34)
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