quarta-feira, 26 de março de 2008

nós somos um abismo

- "Ufa! Ainda bem que hoje não é aula do Edgar, porque eu nem escolhi o texto ainda!"
- "Gente, o Edgar ta lá no cantinho. O que será que ele ta fazendo aí?"
- "Cadê a Cuca?"


Encantamento. É sempre um encantamento. Palavras, gestos e olhares encantadores. Nossas novidades vão de Paranapiacaba a Franca. Gosto de saber as novidades de todos (e me encanto!). Me encanto pela simples pergunta: “Quais são as novidades?” e me encanto ainda mais pelas respostas.

Sobe, inspira. Desce, expira. Perna direita pra trás, inspira. Perna esquerda pra trás, espreguiçamento do gato. Mergulho, expira. Peito pra cima, inspira. Espreguiçamento do gato, perna pra frente. Outra perna pra frente, expira. Sobe, inspira. Saudação inicial, expira. Demos Bom Dia para o Sol de uma forma hindu, mas tudo isso a noite!

Fluxo, fluxo, fluxo, fluxo.
E todo fluxo precisa ser sentido. A bacia é que leva.
Fluxo, fluxo, fluxo.
E massagear os ombros. No braço tem um pêndulo.
Fluxo, fluxo.
Abre a nuca. Enraíza pra crescer.
Fluxo.
Pisa, olha essa pisada. Se conecta com o centro da Terra!

E salta: com o externo, de peito aberto, com uma vivacidade mais delicada do que agressiva; de 360º, não esquecendo do fluxo; lateralmente, controlando a energia pra que ela não se torne explosiva ao extremo; de duplas, alto e longe, como numa ação mutualística o salto só se faz quando agem juntos apoio e saltador. 8, a bacia é quem leva e os dedos são pincéis a pintar o mundo, 8 do corpo.

Reich. Roberto Freire. O seguidor do Reich: Alexander Lowen e sua Bioenergética. Todos com suas psiquiatrias. E um grande Escuta, Zé Ninguém!: “Chamam-te ‘Zé Ninguém!’ ‘Homem Comum’ (...). Mas não é tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
(...)
Mas eu afirmo: só tu podes libertar-te”

Dialogar com o espaço.
Desta vez, não tínhamos que nos prender no “onde”, mas pensar na dialogação que íamos estabelecer com esse espaço.

“Cada ser humano é um abismo e a gente tem vertigens quando se debruçamos sobre um deles.”
Essa frase do Woyseck foi a proposta do Edgar. Há complexidade profundamente presente nela e um profundo complexo presente em nós. (Será?)
A dialogação passou pela porta de vidro, da qual passamos todos os dias desapercebidos, ao banheiro do saguão, sempre vazio e solitário. Tivemos o uso da sala aberta e do palco no breu – o que causou diferentes sensações em cada um, onde teve o interrompmento do Edgar.
E saber, sorrir e alegrar-se (ou entristecer-se) que esta foi a primeira cena interrompida pelo “Mestre de Interpretação” das muitas que viram – pra serem interrompidas e estendidas também. Que o experimento se faz aqui e agora e, na verdade, estamos tomando banho da mesma lama (e que lama maravilhosa!). Mas o martírio não é, necessariamente, um dos ingredientes dessa lama.

Antes de começar a sintetizar aqui o emaranhado de informações que recebemos, peguei um livro do Roberto Freire, Ame e Dê Vexame (o que as pessoas chamariam de um de seus “clássicos”). Transcrevo aqui duas pequenas “luzes” que se encontram no início do livro e acho válidas pra todo o sempre – enquanto acharmos que o sempre é um tempo (r)existente:

“Mas eu desconfio que a única pessoa
livre, realmente livre, é a que não tem
medo do ridículo.”

Luís Fernando Veríssimo

“É o nosso dever de artista mostras às pessoas
que o medo, a culpa e a morte não fazem
necessariamente parte da vida.”
Gensis P. Orridge


Obs.: E estamos realmente sendo (trans)formados neste pequeno passo de (trans)Formação!


lilian.

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