Quinta-Feira, 20 de março de 2008
O mestres chama os aprendizes para uma caminhada, como havíamos combinados todas as segundas aulas das semanas serão com caminhadas antes, começamos dando volta na praça adjacente ao nosso galpão, o cheiro remete a renovação, cheiro de chuva, refresco, céu preto, lua encoberta, um clima ameno, começamos à andar, andamos em círculos ouvindo o direcionamento de Edgar, o único som que interrompe o fim da tarde é sua voz serena dando as coordenadas. Eixo, bacia que nós leva, parece mais natural, não tão duro, continuo caminhando, tento esvaziar a cabeça do dia, observo o grupo, outros aprendizes vão se juntando ao exercício, hoje somos cerca de 20 aprendizes, como peixes entrando em um fluxo, seguimos sem tensões, mexam os braço, tirem as tensões, tudo se esvazia, mas tudo se preenche, foco no nosso corpo tão esquecido. A nossa primeira e última morada, inverte-se o fluxo, a beleza invade nossa roda, cachorros vira-latas correm ao lado, com a simples felicidade de existir, carros passam, transeuntes, mas só existe o grupo, o mestre e os estagiários que nós acompanham.Momento de relaxamento, massagem, em grupo de quatro integrantes, uma pessoa é massageada pelo resto, a cada aperto, a cada toque, percebe-se detalhes, imperfeições perfeitas, dedos longos, curtos, gordos, costas, tensas, leves, neutralidade, bom dia corpo a muito tempo não conversamos, recebo a massagem, capotagem, me varrem tirando o meu velho eu me apresentando o novo eu para o trabalho do dia, fluxo de energia, o presente vem dos céus, a lua antes tímida de sair, entrega toda sua beleza exuberante em sua forma redonda em claro em meio a uma árvore da praça, no meio dos prédios, simples, porém exuberante, formamos duplas briga de galos, agora o exercício toma forma, galo, contato, fogo nos olhos, energia, corre para o ataque com chakra do peito aberto, como se não tive-se medo de nada difícil, o mestre com sua paciência do arqueiro zen afina seus discípulos para o exercício, leveza, é precisão, como um vulcão escorrendo sua lava, ao mesmo tempo devastador, leve, fluido mais aterrorizante, joguem-se, termina o exercício, roda olhares de cansaço, mas vivos, vivos.
Palhaços dispõe de todas as artimanhas para sua briga ser a mais cruel e escatológica possível, caretas, movimentos, desafio a gravidade, eixo, equilíbrio calma, tudo na velocidade da criação do universo, da contemplação de um montanha, a velocidades da formação das estalaquitites e estalaquimites.O mundo nos fez, a vida nós traçou até aqui, novo repertório, novo corpo, novo eu. Não se massifiquem, não se endureçam diz o mestre.Todo processo feito na rua, aos olhos de quem quisesse ver, nunca me imaginei em tal situação, mas foi tão ordinário quanto andar, afinal somos um cardume, existe o mar, mas somos um grupo.Voltamos ao galpão, iremos retomar o exercício das outras aulas de modificação do espaço, transformação, verossimilhança, o chão é onde plantei minhas sementes, com sua calma Edgar fala de sua sobrinha, quando pequena transformou sua rede em cipó para a travessia de um abismo, o olhar de uma criança um desnudar, o mestre lança o jogo, “somos feitos da mesma matéria que os sonhos”, o espaço e de vocês dentro e fora da escola, Formamos grupos de pesquisa de 4 e 5 pessoas, eu com meus companheiros, vemos tudo com outros olhos, e remetem a coisas tão simples, como nossa infância, a pureza e o jogo.Vimos os outros grupos, analogias, morfologias, todas as teorias, o quão maravilhoso é o olhar do ser humano, para uns um submarino, para outro uma caixinha de música, cada qual vê, sente diferente, afinal somos tão diferentes, porém tão iguais.
A carroça agora já tem algum volume? Acho que sim menos ruído, porém com o interior revirado, mais uma vez Edgar nos presenteou com sua marreta derrubando mais uma parede da nossa querida civilização da massa.
Muca
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