sábado, 23 de agosto de 2008

EU

Eu,
que tenho a coragem:
de dormir;
de levantar da cama, depois de acordado;
de tomar banho sobre a eletricidade do chuveiro;
de sair de casa;
de falar com estranhos;
de dizer bom dia;
de andar de ônibus, trem, metrô;
de dizer, não creio;
de dizer não quero;
de dizer não faço ou faço;
de dizer que tenho amigos;
de assumir meus pré-conceitos;
de ver beleza no pezinho do tomate:
de esconder , de mim mesmo, que gosto de plantas, árvores e bichos;
de matar galinhas e escrever poesia com a mesma intensidade;
Eu,
eu não tenho coragem de tirar a roupa;
de me ver nú, inteiro, íntegro na vontade de estar.
Eu que sei chorar e até sorrir, em silêncio, no escuro do meu quarto!
Não tenho coragem de deixar tudo explodir, pra juntar os pedaços e perder os pedaços, se despir pra vida.

... Hoje não haverá espetáculo,
porque ator não quis se despir.
O que temos aqui é uma platéia que veste as cadeiras
e um palco despido pelo ator que não quer se despir.
Hoje não haverá aplausos, para vestir o silêncio
o silêncio ficará assim, nú.
O ator não se despiu e despiu o tempo e a ação
com a ausência do movimento.
Hoje senhoras e senhores
é dia do ator chorar
por não se dar inteiro ao espetáculo,
hoje tem medo!
dos olhos,
da poesia do corpo
e dos seus próprios pensamentos.
Permanecerá no camarim
abraçado a camiseta, seu escudo;
grudado as pernas da calça, sua viga de sustentação;
dentro dos sapatos, seu alicerce de sustentação.
Hoje os refletores não acenderão
o ator não será ele mesmo
porque permanecerá dentro da personalidade que lhe deram ao longo do tempo.
Hoje,
só hoje
não haverá espetáculo!


Protocolo de 23/08/08
Willian Simplicio

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