sexta-feira, 13 de março de 2009

“Água lava as mazelas do mundo e lava a minha alma”.
(Caetano Veloso).

Sexta-feira treze


É com alegria e liberdade,
Como se fossem agora elas donas de mim.
Escrevo para falar do encontro
E da lua-cheia escondida por sobre as nuvens;
Escrevo para falar dos corpos
Despidos pelos paradigmas
Impostos como uma espécie de imposto
Pela sociedade civilizada;
Escrevo para falar dos corpos na chuva
E da música destoada,
Desafinada e, ou, não cantada.
A vida implodida pela chuva.
Os movimentos molhados,
Encharcados, estuprados
Pelo vento que a chuva trazia.
Brômio é a chuva neste dia treze
E a graça é a lua que não veio;
E a graça é a vergonha que não veio;
E a graça é a passarela sobre o rio
E os olhos fechados,
Tapados, escurecidos;
E a graça é correr de olhos fechados em Brômio adentrando cada pingo;
E a graça é se desprender dos materiais
Obrigatórios para a civilidade humana.
Desumanizamos-nos e cantamos
E bebemos na chuva.
À noite, mesmo, iluminada
Pelas luzes artificiais, escureceu.
E daí surgiu as coristas-bacantes
“Os andrógenas”.
As putas e os putos que fazem a vida ter graça na graça que não ter.
Cabaré,
Templo consagrado para a orgia.
E aqui reinam os corpos nus
Se afagando e sendo possuídos.
Tudo é vontade, sexo, tara,
Dança, gloria, desejo.
Hoje, Brômio reina no cabaré,
Assim como Exu reina na calada da noite.
A vida é escassa de liberdade
Mas Brômio hoje nos liberta
Lavando os nossos corpos,
Lubrificando nossas bocas,
Incitando os nossos seios,
Os nossos pênis,
As nossas vaginas,
Os nossos cús
Dando lugar a um outro eu,
Antes aprisionado pelos bons modos.
No outro dia nada continua
Sendo o que foi até ali,
Porque o ali
Ali morreu
E o outro eu ganha força de Ser, porque existe.
A lua do dia treze
É como a nossa escatologia sagrada de todos os dias
Não sendo regada pela chuva.
O encontro liberta as deformidades
De um falo pequeno,
Uma bunda murcha
Ou um peito vazio.
Vazia hoje é a moral,
O lógico,
O nous,
A ordem.
Hoje no dia treze de uma sexta feira qualquer
O corpo é tomado como o centro,
O vazio que se enche do novo,
Do desconhecido, do instante,
Do já.


ASS: William Simplicio.

Nenhum comentário: