
De onde partiu o pessimismo de Tenessee?
No processo de criação a partir das obras desse autor experimentamos uma fotografia em sépia (como bem disse Alex Tenório), descobrindo o poder que há além das palavras, o silêncio é poderoso O gesto revelando o indigesto.
THOMAS LANIER WILLIAMS é o seu nome de batismo. Nascido em Columbus, Sul dos Estados Unidos, em 1914 foi viver em St. Louis, Mississípi. Ali, por causa do seu sotaque sulino, os amigos lhe deram o apelido de Tennessee. Assim, em homenagem à sua origem e ao sobrenome dos pais, o dramaturgo passou a assinar Tennessee Williams.
Aos olhos do pai, Cornellius Williams, Tennesse parecia um menino frágil e inconsequente. Foi para o irmão mais novo, Darkin, que se dirigiram todas as atenções e carinhos. Incompreendido e ludibriado pelo pai, refugiou-se na doçura da mãe. Dos avós maternos guardou lembranças mais amenas. Aristocratas decadentes, os velhos acobertavam a precariedade econômica e o ocaso social através de requintes cotidianos, fineza nos gestos e formalismos nas relações pessoais.
No ano de 1919, em St. Louis, um posto modesto numa fábrica levou seu pai a alterar o orçamento doméstico e mudar o padrão de vida da família. Até então, Tennessee não conhecia a pobreza.
Os avós maternos fizeram de tudo para esconder do menino a lamentável situação da família. Mas a miséria de St. Louis, com seus bairros pobres e sua gente cansada, humilhada pelo desemprego e pela fome, saltava à vista.
Também foi em St. Louis que Tennessee apaixonou-se pela primeira e única vez. O pai não permitiu o namoro, pois a jovem era neta de um empregado da loja onde trabalhava e sua mãe era divorciada o que para ele, não lhe conferia qualquer respeito moral.
Em 1931, ingressou na faculdade de jornalismo e sofreu nova ofensiva do pai quando foi recusado pelo exército. Veterano de guerra, o pai considerou a isenção do filho na carreira militar como uma afronta pessoal. Para puni-lo, obrigou-o a abandonar o jornalismo e empregou-o como auxiliar na fábrica de calçados.
A partir daí, Tennessee passou a freqüentar bares onde se promoviam orgias e bebedeiras.Viciando-se pouco a pouco no ócio e no álcool, sofreu um penoso processo de degradação física e mental. Acabou internado num sanatório alcoólatra, considerado inútil e ocioso.
Ainda no sanatório, Tennessee esboçou seu primeiro texto teatral, Cairo! Xangai! Bombaim!(1935), onde demonstrava o mundo marginal que o conduzira ao esgotamento nervoso. Ainda sobre o mesmo tema, escreveu mais três peças: The Magic Tower (1936), Candles to the Sun (1936) e The Fugitive Kind (1937).
Esses primeiros trabalhos apesar de terem sido bem recebidos pelo público da cidade de Memphis onde convalescia , não o arrancaram do anonimato. Ansioso por promover-se além do amadorismo, Tennesse fez uma nova tentativa, enviando quatro peças de um ato para um concurso de dramaturgia de Nova York. A coletânea, reunida sob o nome de American Blues, foi premiada com a quantia de 100 dólares.
Foi assim que uma agente de Hollywood entusiasmou-se com a qualidade dos textos e o chamou para escrever roteiros de cinema. Mas o único roteiro que conseguiu concluir foi recusado e ele acabou perdendo o contrato.
Tennessee reagiu à depressão e escreveu sua primeira peça realmente estruturada em termos teatrais: À Margem da Vida (The Glass Menagerie, 1945) baseada no episódio de sua vida em que refugiou-se em seu quarto pintado de branco e enfeitado com um zoológico de animaizinhos, tudo para tentar fugir da insensibilidade do pai e da miséria em que vivia.
Encenada com estrondoso sucesso de público e crítica, a peça colocava-o, finalmente, na vanguarda teatral, chamando a atenção dos principais produtores dos Estados Unidos.
Procurado com insistência pelo meio teatral e elogiado pela imprensa, Tennessee Williams entrou na roda viva do sucesso.
Mas não foi tão agradável como ele imaginara. Tornar-se um homem público exigia compromisso e alianças muitas vezes desprezíveis, que violentavam a sua sensibilidade.
Bombardeado pela publicidade e devassado em sua vida íntima, o dramaturgo chegou a ter saudade do tempo em que era apenas um poeta anônimo, amargando suas angústias no meio da madrugada.
Em 1944 submeteu-se a uma operação de catarata e foi convalescer no México, onde pela primeira vez, depois de sentir o gostinho do sucesso, conseguiu um pouco de tranqüilidade. Criticou-se e comentou o mal que a fama lhe fizera num artigo belíssimo: A Catástrofe do Sucesso.
Mais duas peças nasceram desse período de crítica e repouso: Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1947) e Anjo de Pedra (Summer and Smoke, 1947).
Laureado, elogiado, sem nenhum obstáculo profissional, tendo em mãos os produtores e diretores de teatro mais importantes do mundo, Tennessee foi descansar em Roma.
Pela primeira vez não se sentia estéril ao término de uma peça, pois já estava produzindo um romance: A Primavera da Sra. Stone (The Roman Spring of Mrs. Stone, 1950) e uma nova peça, A Rosa Tatuada (The Rose Tattoo, 1951). Este foi o primeiro texto onde não se vê apenas sofrimento e marginalidade. Tennessee fez essa comédia num período feliz, no auge do sucesso. Mas a montagem de 1951 trouxe o primeiro fracasso: “A Rosa” não foi bem recebida pela crítica, que detestou seu otimismo lírico.
Deprimido com o fracasso, retomou uma antiga peça em um ato, Ten Blocks on Camino Real e escreveu Camino Real (1953). Mas os aplausos não vieram. A peça foi considerada vazia e idealista.
Em 1955 escreveu Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot tin Roof), que lhe rendeu novamente a alegria perdida dos aplausos. E os prêmios Pulitzer e Critc’s Award.
Menos ancioso, escreveu a peça de que mais gosta: A Descida de Orfeu (Orpheus Descending, 1955), recolocando nela o tema da alma torturada pelo desejo. Desta vez, com mais veemência, a crítica o arrasou: Orfeu foi considerada uma peça moralista e superficial, e Tennessee ficou gravemente abalado em sua autoconfiança. Afinal, se Orfeu seria, em sua opinião, a melhor peça que escrevera, por que esse repúdio da crítica?
Temendo, mais que a esterilidade, a incapacidade de julgar o próprio trabalho, entrou em crise de depressão. Com a morte do pai, em 1956 e tendo perdido a avô em 1958, Tennessee decidiu fazer psicanálise. Preferiu mergulhar em seus fantasmas interiores, mesmo que esse mergulho o ferisse mais que o fracasso.
No Último Verão (SuddenlyLast Summer, 1958) é a peça da chamada fase psiquiátrica. Sebastian, principal personagem, é um homossexual que é devorado por uma turma de rapazes. Interrogado sobre o porquê desse terrível episódio, Tennessee afirmou: O indivíduo é um antropófago da pior espécie . Todo mundo está disposto a devorar todo mundo.
Devido a essa afirmação, a fase psiquiátrica foi também chamada de fase antropofágica. E acabou exatamente quando o dramaturgo deixou as sessões de psicanálise.
Tennessee ingressou numa nova etapa, fusão de todas as anteriores.
Doce Pássaro da Juventude (Sweet Bird of Youth, 1959), Período de Ajustamento (Period of Adjustment, 1960) e Noite do Iguana (The Night of the Iguana, 1962) são as principais peças escritas depois da psicanálise. Elas continham os mesmos temas dos outros textos solidão, marginalidade e violência mas não agradaram à crítica.
Doce Pássaro de Juventude conta a história de uma velha atriz e seu amante. A mesma trama reaparece em The Milk Train Doesnt Stop Here Anymore (1964) que mais tarde seria adaptada para o cinema.
Quando Tennessee escreveu The Seven Descendents Of Myrtle (1968), os jornais simplesmente tentaram destruí-lo. Somente em 1970 ele encontraria forças para voltar a expor-se publicamente. Nesse mesmo ano, decidiu procurar um novo rumo para sua dramaturgia e um novo estilo para suas personagens.
Temas centrais foram mantidos: morbidez, marginalidade e repressão sexual. Foi a linguagem que mudou: tornou-se fria, distanciada. E as personagens também são mais desgrenhadas que as anteriores, não lhes sobrando uma ponta de dignidade.
Nas peças anteriores, apesar de contundidas, as criaturas de Tennessee mantinham certa decência pessoal, dentro de um código de ética muito particular. Agora elas seriam predominantemente mesquinhas e medíocres.
O conto O Campo das Crianças Tristes, onde desafogou o sofrimento no período de repressão, foi publicado na revista Weird Tales. Ali o autor usaria, pela primeira vez, um pseudônimo.
Quanto aos sucessos e fracassos, Tennessee afirmou: Cada escritor, ao longo de sua vida, exprime um único tema. Para mim, esse tema é a necessidade de compreensão.
TENNESSEE WILLIAMS escreveu quase toda sua obra a partir de uma visão pessimista do mundo. Moralista, ele não conseguia enxergar seu semelhante como alguém capaz de engendrar uma nova sociedade, com sentimentos e valores menos condenáveis.
De acordo com ele a humanidade é uma esperança perdida. Cada homem está trancado dentro de si mesmo e sua alma é semelhante a um poço onde só o sofrimento se agita. Solidão, loucura e marginalidade são os destinos das criaturas que se corrompem no dinheiro e no desejo os carcereiros da alma. Os únicos companheiros do indivíduo são o medo e a solidão, e para eles não há remédio, não há cura.
Suas personagens, portanto, são criaturas tristes: bêbados, poetas vagabundos, operários humilhados, mulheres reprimidas, homossexuais atordoados pela perseguição, atores sem papel, damas decadentes, virgens loucas, prostitutas feridas. Todos, sem exceção, tem o mesmo estigma: estão sós.
Sua dramaturgia caracteriza-se como uma longa e penosa confissão solta no tempo e no espaço. Acreditando que a natureza humana é basicamente corrompida e miserável, ele juntou ao pessimismo filosófico uma neurose pessoal, que nem a psicanálise conseguiu amenizar. Mas se os personagens pertencem ao mundo dos marginais e dos doentes, também são fruto da mais sincera compaixão humana.
Em Anjo de Pedra, John e Alma personagens principais são figuras antagônicas. John é a personagem materialista e mesquinha. Alma é o espírito puro e torturado pelo desejo. A peça, que discute o desejo sexual reprimido e a alma torturada, foi montada em 1947, na cidade de Dallas, e obteve grande o sucesso.
Um Bonde Chamado Desejo também possui como tema central a luta moralista e obsessiva. Blanche é a alma e Stanley o corpo da peça. Stanley Kowalsky, o principal personagem masculino, tem muito da violência do velho Cornellius, o pai de Tennessee. Blanche Dubois, a protagonista, é sobretudo uma criatura sensível, semelhante à figura de sua mãe.
Enquanto seu estilo o aproximava do público, também o separava da crítica. Os críticos julgavam-no um autor superficial, distante da realidade. Arthur Miller, dramaturgo norte-americano de idêntico sucesso, chegou a afirmar que enquanto Tennesse não mergulhasse suas personagens na história, elas jamais seriam verdadeiramente humanas e não passariam de ficção novelesca. O dramaturgo teria sempre que usar o artifício formal da crueldade para manter vivo o interesse do público.
Mas, se Anjo de Pedra foi sucesso de público, Um Bonde Chamado Desejo foi além do esperado. Encenado em todo o mundo, a peça foi traduzida em várias línguas e deu a Tennessee os prêmios Pulitzer e Critcs Award.
°TEXTOS EM EXERCÍCIO:
O matadouro municipal
O Palooka
Essa propriedade esta condenada
Fala comigo doce como a chuva
E contando histórias tristes...
Porque você fuma tanto Lily?
O quarto escuro
Escape
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