terça-feira, 19 de maio de 2009

Processo Seletivo para a F12 - fevereiro/2008

Eu não queria e era puro medo! No dia 18, dia de prova teórica, eu cheguei chorando. Ju Osmondes e Eder Lopes, pessoas que eu tenho que agradecer muito, sempre me diziam: "Essa tua insegurança não te faz bem". Eu nunca queria ouvir os palpites da Juliana, hoje, porém, eu sei o quanto eles me fizeram bem. Eder e Ju são pessoas que me ajudaram muito ao longo do ano de 2007. Outras pessoas, não menos importantes, me deram apoio ao longo do ano e, principalmente, no processo seletivo: meus pais, Jade, Osmar e, a pessoa que me deu muitas energias pra levantar a cabeça, Thiaguinho (a Nega da F11).

Essa minha insegurança e meu medo me deixaram despreparada. Dia 19, e eu ainda não tinha cena pronta. O DIA DAS CENAS e eu não tinha cena pronta! Me encontrei com o Thiaguinho a tarde, na casa dele. A casa me deixou mais nervosa e insegura. Muitas cenas sendo mostradas lá: Vand, Débora, Adaís... E outras muitas pessoas de telespectadores: Edson da F9, Alex do TL e outras que nem sabia o nome. Sendo assim, ensaiamos no quintal. Um quintal dividido por quatro casas e ficamos pelados lá mesmo. Passamos a cena, naquela tarde. Não era o melhor esforço que eu poderia doar. Então, eu queria ousar.

A minha sala de seleção foi a sala aberta, lá em cima, com a banca de Alex Tenório e Cris Gouveia. Ver a cena dos outros te faz ainda mais inseguro, mas era, inexplicavelmente, maravilhoso. Era clara a diferença de objetivos, estéticas e até vontades. Lembro da Katleen, Karoly e da Jôcileide como Joana (Gota d'água) e do Júlio César com uma cena linda. Na hora da minha cena, do texto da Claúdia Chapira (Bartolomeu: Que será que nele Deu?), não vi nada. Me encontri com cada olhar, porém, não me lembro. Parece algo muito demorado que, na verdade, não dura nada. E se foi, foi, foi... Foi-se a Primeira Fase, passando para a Segunda.

A Segunda Fase é ainda mais gostosa e tesuda. Esquecia que estava em um Processo Seletivo. Era uma delícia esquecer e se doar para os mestres e coleguinhas que ali proporcionavam um encontro. Como poderia deixar de me doar à infalível memória da Ju Monteiro, dos olhos de menino do Thiago Antunes e do sotaque carioca de Denise Weinberg? Rogério Toscano ficou fora do Processo Seletivo diretamente, mas sua força estava muito presente. Assim, como poderia deixar de me doar as tantas broncas de olhares de Rogério Toscano a pedido de silêncio? Não tinha jeito, a ação era doar-se.

Na quarta, dia 20, tivemos uma longa conversa com o Kil. Acho fundamental as pessoas entenderem o que é a Escola antes de entrarem nela. O mesmo dia estava destinado a aula de CORPO, que começou com Thiago Antunes.
Fecha os olhos e vem comigo. Por degraus e descidas. Fecha os olhos e vem comigo.
Logo, Ju Monteiro e sua incrível memória, que consegue decorar todos os nomes, veio nos dar aula.

Fazia tempo que eu não trabalhava o corpo e, no dia seguinte, senti meu corpo bem mais presente. O bom mesmo é que tivemos dois dias de corpo, Dia 20 e Dia 21. No dia 21 as coisas estavam bem confusas. Era pra termos aula com o Milan, mas ele não foi. Cada um com seus problemas... Pois bem, começamos invertido, primeiro com Ju Monteiro e depois com Thiago Antunes.

A chuva lá fora era alta. Ver eu não via, seu barulho é que ecoado era alto e com uma energia arrebatadora. Em um exercício de sensação corporal, onde estávamos na percepção da escuta, Juliana Monteiro falou sobre a chuva, como era o seu barulho e como esse barulho reverberava em meu corpo. Mas que chuva... E choveu tanto que alagou tudo! Moro no Bangú há muito tempo e creio que nunca vi isso. Encher sempre encheu, na Av. dos Estados, na Popular, do DETRAN (que agora é faculdade), mas na praça Rui Barbosa? Não, nunca vi. O resultado foi que ficamos todos presos, até a água da chuva baixar. Nessa, algumas pessoas tiveram os carros alagados, a um nível alto, pela água da enchente. Na verdade, parecia que ninguém nunca tinha visto uma enchente de tão excitados que todos estavam.

Dia 22, aula de MÚSICA. Tivemos um encontro rápido com Lúcia Gayoto e outro, igualmente rápido, com o Kurlat, ambos acompanhados dos "Cris", Meirelles e Gouveia.
Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Quando minha jangada voltar lá do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer

Dia 25, dia de TEORIA. Eu sou bem cabeção, fico ainda mais com as aulas teóricas. O aprendizado, que Alex Tenório nos deu, foi em cima dos textos que nos foram distribuídos na semana passada. Eu peguei um texto do Nelson Rodrigues, Perdoa-me por te traíres. As duplas já haviam sido estipuladas, nomeu caso, aleatoriamente. Minha parceira era Jôcileida, do Itaim.

Dia 26, começam as aulas de INTERPRETAÇÃO. Primeiramente, Edgar Castro. E, logo, Lubi, Mariana Senne e Denise Weinberg. Começamos a nos dar com o texto. E tive sérios problemas com a minha dupla. Sou muito chata no trabalho, em termos de comprometimento, generosidade, confiança e seriedade. Sei disso, sou chata. Marquei dois dias com a minha dupla e ela não veio em nenhum dia. Isso é o tipo de coisa que me deixa muito puta. A garotinha veio dizer pra mim faltar no trabalho pra ensaiarmos, sendo que ela furou dois dias. Não! Eu não trabalho toda engomada porque quero - e não é assim. No final das contas, eu corri do meu trampo pra chegar na escola o mais cedo possível e ela não estava. E de novo não estava e nunca estava...

A questão é que não tínhamos cena. Dia 27, segunda aula de interpretação, foi aí que fomos fazer a nossa cena. O Edgar foi o primeiro quem viu nossa experimentação e acabou com ela. Tudo foi mudado e quem viu foi a Denise Weinberg... Puta! Que mulher maravilhosa! Incrível ela falando da cena. Mas, eu não sentia jogo com a minha dupla, parece que faltava confiança pra me doar a ela.

Dia 28, CENAS. A primeira cena foi do Adaís e da Gilmara, uma menina excêntrica, com o texto A Raíz. Metade da seleção estava doente. Eu estava com febre e o blusão de moleton já era pouco pra mim. Fiz a cena, assim. Não lembro como entrei no palco e nem como sai, sei que fiz. Minha febre me deixou em transes profundos. Jade estava ótima. Osmar, então, na cena do trio, três maravilhosos. Queria estar lá no meio da cena, sabe? Inês e Luciana, Mafê e Marcela, como Nair e Glorinha. Lindas. Tantas e tantas cenas...

Dia 29, ENTREVISTA. Novamente, na sala aberta com a banca de Eder Lopes, Alexandre Mate e Lubi. Foram feitas entrevistas em trio, junto comigo estavam Igor e Ailton.
E as perguntas: "Por que a Escola Livre?", "Como foi o trabalho com seu parceiro?", "Das cenas que você viu ontem, qual você gostaria de fazer?", ...
Alexandre Mate, fez uma pergunta muito importante pra mim: "Essa sua tosse é o que? Gripe?". Não tive muitas respostas e ele mesmo respondeu: "Isso é um PINTO na GARGANTA!"


*Eu, Lilian, tenho um Protocolo pessoal dos nossos processos desde o primeiro dia de seleção. Ontem o reli e resolvi compartilhar - desde que escrevi, não o tinha lido, novamente, ainda.
É um olhar um tanto quanto ingenuo sobre a Escola, as pessoas e os Mestres. No contexto temporal em que havia escrito, eu tinha acabado de fazer 18 anos e nunca tinha tido um contato muito grande com essas pessoas, principalmente, com os Mestres - só os conhecia, distantemente, por nome e por trabalhos realizados. Hoje, não mudou muito: tenho 19 e conheço os mestres dentro do nosso espaço de trabalho. Mas, o relevante é que muitas transformações aconteceram, estão acontecendo e ainda acontecerão, muitas ligadas diretamente com a Escola Livre.

Escrever, ter esse protocolo, me faz lembrar detalhes, sensações e emoções. Lembrei muito do processo seletivo e de companheiros de seleção, que também formam a turma hoje.

Acabou este processo de seleção e aqui estou.

lilian

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