Pois é... Agora é a minha vez... A roda foi desfeita, o mestre olhou pra minha cara e disse: “Mayara você faz o protocolo para amanhã?” E eu: “Faço” Querendo dizer não!!! Então o sim já foi dito e agora cabe a mim passar para o papel as experiências vividas no dia de hoje, 01/04/2008.
Cheguei na escola, fui para o palco, o treinamento estava começando, primeiro preparando a base, depois o arqueiro e por ultimo a balança. Cansadíssima, saio daquela meia hora super intensa e corro para o galpão, vejo um bando de loucos carregando cadeiras para a gaiola, lugar estranho por sinal! Pronto... O galpão esta livre pra podermos sonhar, basta à imaginação criar.
Vamos pra praça, fazer o que? Andar... andar? Sim. Andar. Esse cotidiano exercício que fazemos sem ao menos notar, dessa vez São Pedro nos permitiu, a noite estava linda, fluxo, base, ombros, bacia, empurrar o chão, leveza, para um lado, para o outro, rir, estamos muito sérios... andar e pensar... como aquele andar interfere no nosso abismo? Quantas coisas nos passam pela cabeça e como administrá-las para não perder o foco no andar? Uma espiral, o nosso corpo funciona em espiral, braços em contraposição natural com as pernas, a bacia, a coluna, a natureza, as galáxias, o próprio dna é uma espiral, sempre em movimento, sempre em transformação.
Agora vamos brincar de briga do galo, como atacar e como esquivar? Como atingir a veracidade no ataque e no jogo? Assumo que dessa vez me entreguei menos, tive muita dificuldade de jogar com o meu companheiro, mas percebi que nas outras vezes usava muita energia desnecessária, o jogo rolava e me divertia, me sentia melhor, todavia quando pulava em direção o adversário com o peito não o atingia e dessa vez percebi que o ataque foi mais limpo, a dificuldade é como equilibrar as coisas e como conduzir os movimentos de modo que a brincadeira seja divertida, intensa, interessante e verdadeira.
Ok. Nos organizamos em filas e o exercício é: fazer o símbolo do infinito com os braços, mãos próximas, sendo guiados pela bacia, novamente é preciso fluxo, o fluxo sempre tem de estar presente, não só no exercício, nem só no teatro e sim na vida. Depois um era apoio do outro, duas pessoas, um é a base e o outro a partir dessa base bem colocada voa, a questão agora é como ser a base e como voar? Uma coisa esta inteiramente ligada à outra, um só existe se o outro existir, presença, saber estar presente sem ser o foco e sendo o foco.
Saímos da praça e voltamos pro nosso galpão, sentamos no nosso retângulo, a platéia, respiramos, Tererê leu o protocolo feito por ela, lembro do fim de semana em Paranapiacaba que ela ressaltou umas 5 vezes que precisava fazer este protocolo, estava super insegura, eu não queria estar no lugar dela, agora ironicamente coloco este relato no protocolo feito por mim.
Edgar pediu para um dos grupos que fizeram sena na semana passada se levantar, eu fiquei bem quieta no meu lugar, conflito interno, um dos grupos se levantou, super de sopetão tiveram que “refazer” a sena, o que permaneceu foi à personalidade das personagens, a sena se transformou, o assunto era o mesmo mas a percepção foi diferente, seis irmãos se unem na casa na qual passaram a infância, discutem se devem ou não colocar os pais em um asilo. A sena foi refeita mais algumas vezes mas dessa vez por outros atores pegando emprestado as mesmas personalidades.
Depois o mestre nos organizou em duplas e a proposta era: O conflito entre dois irmãos que acabaram de sair da discussão sobre os pais, o espaço era o mesmo, a casa de infância, tínhamos que montar as personagens e o conflito em torno das mascaras e dos motivos que estão por trás destas. Discutimos e comemos. Os exercícios foram feitos.
É incrível como me torno todos os dias após as aulas uma pessoa diferente, como a reflexão nos transforma, se uma coisa acontece em sena ela acontece na vida, agimos igualmente mas em outras proporções, no dia a dia as coisas são mais disfarçadas, mas lá em frente aos coleguinhas ficamos nus, acredito que na vida somos redundantes, entregamos o jogo sem ser jogado, nos tencionamos, ou nos fingimos soltos de mais. Temos também que entender a nossa sombra, não é possível fazer uma personagem sem ser dono de si mesmo e aceitar que somos luz e sombra, que temos um abismo e que este é fascinante e assim como nós nossas personagens também possuem uma psique, usam mascaras e tem porquês.
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