Quinta feira, dia 12 de junho (que foi quando aconteceu).
Ou
Dez dias depois.
Ou
Domingo, dia 22 de junho (que foi quando registrei).
Ou
Segunda feira dia 23 de junho (que é agora).
Chego à minha segunda casa e percorro as veias desse lugar, as escadas, as salas, e o sangue que corre nos detalhes avermelhados. Chego ao coração, o pulsante galpão que manda para todo o resto do corpo o essencial para a sobrevivência.
Eu, com meio litro de sangue a menos no corpo, me sento em silêncio na roda para ouvir as grandes e horripilantes notícias e vivências ocorridas com aqueles outros seres vivos que se encontram na mesma roda que eu. Enquanto as notícias vão rolando, não posso deixar de olhar um por um ali e pensar “Meu deus! Somos em apenas 27 e temos tanto para contar, imagina as outras 6 bilhões de pessoas no mundo todo?!”. É incrível a quantidade de histórias que não conheço, as pessoas que nunca vi, as vozes que nunca ouvi, é incrível o tanto de pessoas que olho todo dia, mas que não vejo. É incrível no sentido de não crível, chega a ser assustador.
Edgar nos mostra um novo horizonte, o horizonte do guerreiro, tira o nosso véu e nos ataca inesperadamente, com precisão em seus movimentos. E assim a gente arranca o véu e ataca também, ataques tímidos, desengonçados, mas com sede de perfeição. O mesmo ocorre na seqüência dos socos. Formamos o nosso círculo de energia e começamos a jogar nossas vozes no espaço para fazê-lo pulsar com nosso corpo. Expandir o diafragma da escola, projetar o som de suas paredes, engolir a saliva quente que escorre pelos corrimãos e jogar as palavras para que atinja todos os cantos daquele nosso canto.
Abastecidos de energia sentemo-nos para nos abastecer de sensibilidade. As leituras se iniciam e percebo que a grande questão central é o individual, é o conhecimento que temos de nós mesmos. A emoção é uma massinha e temos que moldá-la e para isso é preciso estar abastecido de sensibilidade, assim facilitamos o caminho na busca dos degraus da fala e do corpo trazendo diferentes tons ao que fazemos. Tom! Sinto que estamos sempre nos equilibrando num mesmo tom, medo de cair, de extravasar, medo de ser ridículo, não-elogiável, de mostrar as fraquezas e o lado cabeludo. Por quê? A quem queremos enganar? Ainda somos bonzinhos demais e como diz Sir Edgar “De boas intenções o inferno está cheio!”.
E foi nessa linha que se conduziu o restante da noite, com vivências, conversas e ações.
Claro, que já que estivemos sem o Ed na semana passada, nossa aventura independente deve ser registrada também. Por onde começo? Ah, talvez pelas sete horas que levamos para resolver a nossa Mostra, ou então pela votação inacabável de coisas a serem relevadas, ou então pela nossa saudação à Dionisio, ou pelos “ios” do Rafa, ou pelas mediações bem feitas e às vezes nervosas do Alê, ou pelos meus comentários chatos e insistentes, ou pelas caras de tédio, ou pelas caras de alegria da minoria que se converteu em maioria e acabou saindo satisfeita, ou pela insatisfação da maioria que se converteu em minoria da qual hoje faço parte, ou pela algazarra com que tudo se findou, ou pelas batidas de portas na cara, ou pelos risos coletivos que acabavam estressando todo mundo que ria ao mesmo tempo porque ninguém conseguia ouvir seu próprio riso, ou talvez pelas conversas paralelas que acabavam irritando a todos (até mesmo os paralelos que conversavam) porque ninguém conseguia ouvir sua voz, ou pelo choro em massa onde todos ficaram a flor da pele porque não conseguíamos ouvir nosso próprio choro, ou no bate cabeça que fizemos, ou talvez eu possa simplesmente dizer que o grande lado positivo disso tudo é que nada é igual e só se vive uma vez, logo o que passaremos adiante será diferente e, se a (Trans)Formação XII quiser, evoluídos. Não esquecendo que por mais que tudo tenha se resolvido a verdade só será desvendada no ato, pois como nos citaria Brecht se estivesse aqui “Só o resultado é real!”.
Finalizo meu “não-elogiável” protocolo com um texto de Gustavo de Castro chamado Canto Nietzschiano:
E aquele, entre os homens, que não quer voltar ao pó,
É preciso antes que comece a cantar em qualquer canto um canto de dor.
E aquele, entre os homens, que não quer gestar intrigas,
É preciso antes que aprenda a calar em todas as línguas.
E aquele, entre os homens, que não quer morrer de solidão,
É preciso antes que comece a beijar todas as bocas.
E aquele, entre os homens, que não quer morrer sem verdade,
É preciso antes que aprenda a acreditar em todas elas.
E aquele, entre os homens, que não quer morrer de tédio,
É preciso antes que aprenda a ser todos de todas as maneiras.
E aquele, entre os homens, que quer permanecer íntegro,
É preciso antes que saiba silenciar todas as falas.
E aquele, entre os homens, que quer permanecer sensível,
É preciso antes que saiba sentir tudo de todas as maneiras.
E aquele, entre os homens, que quer permanecer são,
É preciso antes que saiba ter todas as loucuras.
Sabrina!
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